Somos estudantes de Psicologia na Universidade Católica, do segundo ano.
Este blog foi construido no ambito da disciplina Psicologia da Paz, tendo como tema principal o Terrorismo.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Papel da ideologia no comportamento terrorista


A ideologia desempenha um papel crucial na selecção da meta terrorista, pois fornece aos terroristas uma motivação inicial para a acção e proporciona-lhes um prisma através do qual eles visualizam os eventos e acções da outras pessoas( Drake, 1998).
A ideologia é frequentemente definida como uma prática comum em que é acordado um conjunto de regras que ajudam a regular e a determinar um comportamento.
Ideologias que apoiam o terrorismo, embora sejam bastante diversificadas, parecem ter três características comuns: elas devem fornecer um conjunto de crenças que orientam e justificam uma série de mandatos comportamentais; não podem ser violadas nem podem ser questionáveis, e os comportamentos devem ser vistos como dirigidos para servir uma causa ou para atingir um determinado objectivo. A cultura é um importante factor no desenvolvimento de uma ideologia, mas o seu impacto sobre ideologias terroristas especificamente, ainda não foi estudada.
Para finalizar, podemos dizer que qualquer que seja o motivo que o terrorista invoca, ele é fortemente impulsionado pela crença de que a vitória da causa, deve ser alcançada a qualquer custo. Os terroristas, em nome de uma religião, justificam a violência dos seus actos como autodefesa ou para vingar as comunidades religiosas a que pertencem. “Eles acreditam que existe a diferença entre o certo e o errado, mas também acreditam que se fizerem alguma coisa em nome da causa, esta será justificada, mesmo que seja errada”, diz Rona Fields, psicóloga americana que tem estudado terroristas há mais de 30 anos. No fundo conclui-se que a religião não é inocente, mas ela não provoca violência por qualquer razão, isto só acontece devido a um conjunto peculiar de circunstâncias, sejam elas políticas, sociais ou ideológicas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Guerra Psicológica


O Departamento de Defesa Norte Americano define guerra psicológica como: "O uso planeado de propaganda ou outras acções psicológicas com o objectivo primário de influenciar as opiniões, emoções, atitudes e comportamento de grupos estrangeiros hostis, de forma a alcançar os objectivos da nação."
Embora os ataques causem mortes trágicas e ferimentos graves, o objectivo do terrorismo, por natureza, é produzir efeitos psicológicos de longo alcance além da (s) vítima (s) ou do objecto imediato da sua violência. A sua finalidade é instilar o medo interno e assim intimidar ou afectar o comportamento de um público-alvo.
Esse público varia dependendo das metas, das motivações e dos objectivos dos terroristas. Pode incluir um governo nacional ou um partido político, um grupo étnico ou religioso rival, um país inteiro e seus cidadãos ou a opinião internacional. O ataque terrorista pode tanto desejar especificamente um determinado segmento do público ou vários públicos.
A publicidade gerada por um ataque terrorista e a atenção focada nos seus perpetradores são planejadas para dar poder aos terroristas, estimulando um ambiente de medo e intimidação propício à manipulação terrorista. Nesse aspecto, o sucesso do terrorismo é melhor mensurado não pela métrica aceite da guerra convencional, isto é, número de inimigos mortos em batalha, quantidade de militares mortos ou território geográfico conquistado, mas pela sua capacidade de atrair a atenção para os terroristas e sua causa e pelo impacto psicológico e efeitos destruidores que os terroristas esperam causar ao público-alvo.
Os terroristas usam a violência ou exercitam a ameaça da violência porque acreditam que somente por meio de acções violentas brutais a sua causa pode triunfar e as suas metas políticas de longo prazo podem ser conquistadas. As operações são então planejadas deliberadamente para apavorar, chocar, impressionar e intimidar, garantindo que os seus actos sejam suficientemente audaciosos, sangrentos e animalescos para capturar a atenção dos media e, por sua vez, também do público e do governo. Dessa forma, ao invés de ser visto como indiscriminado ou insensato, o terrorismo é na verdade uma aplicação deliberada e planejada da violência.

Vulnerabilidades dos grupos terroristas

“The same factors that aid in the formation of terrorist organizations may also be related to their decline.” – Oots, 1989



Todos nós temos o nosso “calcanhar de Aquiles”.
Relativamente aos grupos terroristas, as suas possíveis fragilidades estão divididas em duas categorias, internas e externas.
No primeiro grupo encontram-se as seguintes valências:

Desconfiança interna, ou seja, as organizações terroristas necessitam de manter um razoável nível interno de segurança para conseguirem conduzirem as suas operações e, até mesmo sobreviver; são vigilantes de modo a que não sejam surpreendidos por pessoas infiltradas.

Inactividade, dado que os grupos estão mais vulneráveis durante períodos de inactividade e quando não estão focados em possíveis ameaças externas, mas sim nos seus valores e objectivos comuns.

Competição pelo poder interno, a certo ponto podem ser geradas discussões entre o grupo. Oots (1989178) observes that “internal struggles for the leadership of the organization are likely to divide the organization into factions and lead to its decline as well”.

Desacordos, uma vez que nos grupos terroristas existem grandes diferenças relativamente a certos pontos como tácticas, questões éticas, uso da força, entre outros.

Passando agora para os factores externos, são eles:

Suporte Externo, uma vez que não seria possível uma organização, sendo ela política ou ideológica, sobreviver sem suporte financeiro, bélico ou organizacional. O grupo deve possuir o número generoso de meios para atrair e manter uma organização.

Conflitos Inter-Grupais, sendo que o conflito é uma característica constante dos grupos terroristas. Para além dos conflitos intra-grupais, também são gerados os inter-grupais, potenciais ameaças para uma organização terrorista.

Constituintes/”Apoiantes”, esta valência diz respeito à população que fornece um suporte instrumental ou expressivo aos grupos terroristas, ou que simplesmente simpatiza com a sua causa. Esta poderá ser uma área de elevada vulnerabilidade, uma vez que os grupos terroristas têm de ter em conta as reacções dos seus “apoiantes” face aos seus actos.
De facto, os “apoiantes” destes grupos podem deter ou encorajar um acto terrorista.

Radicalização e Terrorismo


O terrorismo não é produto de uma única decisão, mas o resultado final de um processo dialéctico que gradualmente empurra um indivíduo em direcção a um compromisso com a violência ao longo do tempo.
Com base numa análise de vários militantes de grupos extremistas com diversas ideologias, Borum observa que existem "alguns marcadores observáveis ou fases do processo que são comuns a muitos indivíduos em grupos extremistas e zelosos seguidores de extremistas ideológicos, tanto estrangeiros como nacionais. O processo começa por percepcionar algum evento insatisfatório como injusto. A injustiça é atribuída a uma meta política, pessoa, ou nação. O responsável, percebe como uma ameaça, o que facilita a justificação para a agressão.".
Ele descreve o desenvolvimento das ideias extremistas e a sua justificação da violência em quatro estádios simples. No primeiro estádio o ponto de partida é a queixa ou o sentimento de insatisfação, geralmente relativo a alguma restrição ou privação percebida da pessoa no seu meio ambiente. No segundo, refere-se à percepção de uma discrepância percebida como injusta e que suscita sentimentos de ressentimento. No terceiro estádio, acredita-se que coisas “más” podem acontecer na vida, que as injustiças normalmente não ocorrem sem uma causa. Por ultimo, o quarto diz respeito à erosão (por vezes intencional) das barreiras psicológicas e sociais que inibem o comportamento agressivo, mesmo na presença de impulsos agressivos ou intenções. Isto pode criar justificações para uma acção ou desumanização das vítimas, assim como a sua auto-percepção como “mal”.
Apesar do modelo ter valor heurístico, não é estatisticamente relevante, e tem mais fundamento para extremistas (militantes) violentos, do que para uma ideologia extremista em geral, para além de que ainda não é claro como é que se faz a progressão dos estádios de se tornar, permanecer e sair.

domingo, 17 de maio de 2009

Como é que as organizações terroristas se formam, funcionam e terminam?


“O grupo que executa o acto do terrorismo é mais significante do que o indivíduo.” Crenshaw, 1992

O Crenshaw (1985190) aponta várias semelhanças estruturais e principais entre grupos terroristas políticos e outras organizações voluntárias não violentas. Especificamente faz o seguinte paralelismo:
• “O grupo tem uma estrutura definida e as decisões são feitas colectivamente.
• Os membros da organização ocupam papéis que são funcionalmente diferenciados;
• São reconhecidos líderes em posições da autoridade formal;
• A organização tem acções colectivas que ela persegue como uma unidade e com a responsabilidade comum reclamada para as mesmas. ”

A capacidade de atrair e doutrinar novos recrutas jovens é crítica ao êxito de longo prazo de qualquer organização terrorista (Oots, 1989194). A maior parte das organizações extremistas têm um tempo de vida relativamente curto, só aquelas que são resilientes sobreviverão. Se a organização for persistente e activa em operações de alto risco, é vulnerável a perdas substanciais de captura, encarceramento, ou morte dos seus membros.
Os terroristas enfocam o seu recrutamento onde os sentimentos sobre a privação percebida são os mais profundos e os mais penetrantes. As redes sociais e as relações interpessoais fornecem conexões críticas do recrutamento em organizações terroristas. Os recrutadores terroristas eficazes identificam ou comunicam sobre a perspectiva um sentido de urgência e iminência “para fechar o acordo.”
O principal objectivo de qualquer grupo é manter a sua própria sobrevivência ou a existência como um colectivo. O seu sucesso a longo prazo depende da sua capacidade, para a capacidade de atrair e doutrinar um fluxo constante de novos recrutas.
O grupo deve ser capaz de manter tanto a coesão como a lealdade. Os líderes eficazes de organizações terroristas devem ser capazes:
· manter um sistema de crença colectiva;
· estabelecer e manter rotinas organizacionais;
· controlar o fluxo de comunicação;
· manipular incentivos (intencional e metas) para os seguidores;
· desviar conflitos externos de metas e manter a acção.

Outra evidência sobre grupos, porém, é que eles são dinâmicos e em constante evolução em termos de estrutura, composição, cultura, crenças, percepções, actividade, unidade e dedicação.
Apesar de todos os esforços pelos grupos em manter toda a sua estrutura, existem inúmeros caminhos pelos quais uma organização terrorista é eliminada ou cai em declínio. Alguns são canibalizados por vulnerabilidades e conflitos internos, outros são dizimados pelo governo.

Em que medida é que a personalidade individual é relevante para entender e prevenir o terrorismo?


Os traços da nossa personalidade não conseguem explicar a maior parte dos comportamentos humanos, inclusive comportamentos violentos.
A personalidade é formada pelo conjunto dos dados externos e internos que moldam a maneira de ser.
O perfil do terrorista suicida não é o de um psicopata ou de um bandido, como se acredita. Normalmente ele é um ser humano como qualquer outro, com princípios morais e religiosos. O psiquiatra muçulmano Dr. Eyad Sarraj diz que os terroristas islâmicos são "geralmente pessoas tímidas, introvertidas e não violentas, de uma forma geral".
Aliás, não existe um perfil psicológico claro, pois os terroristas não têm distúrbios mentais, são pessoas comuns, em geral jovens inseguros com forte desejo de afiliação a um grupo. Um psicopata não trabalha em equipa e não tem lealdade aos valores do seu grupo social, a sua motivação é intrinsecamente egocêntrica. Já para um terrorista suicida, a motivação é altruística, o gesto de dar a vida pela causa do grupo a que pertence é valorizado na cultura dos homens-bomba. Ou seja, os terroristas estão convictos de que estão do lado do bem ao atacar o “grande Satã”. O Islamismo tem orientação pacifista, a barbárie dos atentados só é passível se justificativa através de um processo de deformação, feitas por segmentos fanáticos, nos preceitos desta religião.
Qualquer que seja a causa que o terrorista invoca, ele é firmemente impulsionado pela crença de que a vitória da causa deve ser alcançada a qualquer custo. Os terroristas, em nome da religião, costumam justificar a violência em nome da autodefesa ou para vingar as comunidades religiosas a que pertencem. "Eles acreditam que existe uma diferença entre o certo e errado, mas também que se fizerem alguma coisa em nome da causa, ela será justificada, mesmo que seja errada", diz Rona Fields, uma psicóloga americana que tem estudado terroristas por mais de 30 anos.

Não há nenhuma personalidade terrorista, nem há qualquer perfil exacto, psicologicamente ou de outra maneira, do terrorista. Além disso, os traços de personalidade sozinhos tendem a não ser prognosticadores muito bons do comportamento. A investigação para entender terrorismo estudando traços de personalidade terroristas provavelmente será uma área improdutiva de nova investigação e interrogação.

A Psicopatologia e o Terrorismo

De que forma é que a psicopatologia é relevante para percebermos e prevenirmos o terrorismo? Desde cedo, o “objectivo” da Psicologia é explicar certos comportamentos disfuncionais que possam ser considerados como patológicos; desta forma, ao sermos bombardeados, pelos meios de comunicação, sobre os actos terroristas, damos connosco a pensar que provavelmente, estas são pessoas com disfunções cognitivas ou emocionais ou portadores de doença mental, visto que nenhum indivíduo “normal” faria algo tão monstruoso.
Contudo, esta ideia de que o terrorismo é produto de desordens mentais tem vindo a ser desacreditada.
Para muitos especialistas, o terrorismo é fruto de um comportamento anti-social, ou seja, um historial de vida caracterizado por comportamentos de raiva e anti-sociais como mentir, roubar, agressões a terceiros ou até mesmo, actividades criminosas.
Por sua vez, a Psicopatia é reconhecida como uma síndrome clínica similar à Perturbação Anti-Social, dado que os comportamentos característicos desta são semelhantes à Psicopatia, todavia, esta é caracterizada por elementos essenciais de deficiente experiência emocional, isto é, ausência de culpa, empatia e remorsos e, também, falta de vontade de explorar relacionamentos interpessoais, isto é, insensibilidade, indiferença, uso dos outros e um estilo de vida parasita. Só apenas cerca de 25% dos indivíduos com Perturbação Anti-Social da Personalidade possuem estas características adicionais para se diagnosticar uma Personalidade Psicopata.
Assim, embora os terroristas cometam actos odiosos, estes serão raramente classificados como “psicopatas”, uma vez que os primeiros se guiam por princípios religiosos ou ideologias, enquanto que os psicopatas não formam estas ligações, nem estariam dispostos a sacrificarem-se, incluindo morrer, por uma causa.
Concluiu-se que é muito raro encontrar terroristas portadores de doenças mentais ou de desordens; estes sujeitos não são seres disfuncionais ou patológicos, mas sim pessoas lúcidas, racionais, possuidoras de motivos válidos que conduzem outra forma política que incentiva a violência, o terrorismo.

Como e porque é que as pessoas entram, ficam e saem de uma organização terrorista?


A investigação recente baseia-se no porquê de os indivíduos se tornarem terroristas, mas é necessário fazer questões mais pertinentes a nível de investigação, que não se baseiem apenas no porquê!
Investigadores dizem que nem sempre os terroristas tomam uma decisão prévia consciente de que se querem tornar terroristas. Entre os principais factores psicológicos na compreensão de como e quais os indivíduos de um determinado ambiente que vão entrar no processo de se tornarem terroristas, são o motivo e a vulnerabilidade dos mesmos.
O motivo é uma emoção, um desejo, uma necessidade psicológica, ou impulsos semelhantes que actuam como um incentivo à acção, enquanto que a vulnerabilidade se refere à susceptibilidade ou resistência à persuasão ou à tentação.
Uma das motivações para a “entrada” no terrorismo é muitas vezes a causa ideológica de um determinado grupo. No entanto, a razão e os motivos para se juntarem a uma organização terrorista, podem ser bastante variados, consoante os grupos e até mesmo o tempo.
Martha Crenshaw sugere que há pelo menos quatro categorias de motivação entre os terroristas, são elas a oportunidade de acção, a necessidade de pertença, o desejo de estatuto social e a aquisição de uma recompensa. Post foi ainda mais longe ao sugerir ainda que o terrorismo é um fim a si próprio, independente de quaisquer objectivos políticos ou ideológicos.
Horgan tem enquadrado a vulnerabilidade de uma maneira mais lúcida e útil como “factores que apontam para algumas pessoas que têm uma maior abertura e um maior engajamento do que outros”. Com base numa revisão da literatura existem três temas motivacionais: injustiça, identidade e pertença. Estes temas estão relacionados com a abertura e vulnerabilidade e parecem ser proeminentes e consistentes.
Estes três factores foram encontrados com frequência nas decisões de entrada numa organização terrorista e na participação em actividades terroristas. Muitos analistas referem que estas podem ser as verdadeiras causas do terrorismo, independentemente da ideologia.

O que é um terrorista?


É difícil definirmos o que é um terrorista, provavelmente se procurarmos num dicionário ou na internet, muitas são as definições que encontraremos, provavelmente semelhantes a esta que diz que um terrorista é alguém que usa a violência, contra uma população ou governo, para provocar um estrago psicológico superior ao acto em si.
No entanto, apesar de tudo, é difícil dizer quem são ou não estes terroristas, o que os move e que objectivos pretendem atingir.
Ao longo do nosso blog, vamos não só abordar a definição de terrorismo, como tentar compreende-la através de uma visão mais relacionada com a Psicologia. Faremos reflexões críticas, acerca do que se passa na actualidade a este nível e abordaremos os estudos mais recentes.